Dupla apresentação marca sexta edição da série “Concertos Didáticos” Notícias

12/11/2018 15:30 Atualização

O auditório da Escola de Contas do Tribunal de Contas do Município de São Paulo foi palco, na sexta-feira (9/11), de duas apresentações da série "Concertos Didáticos". A plateia pôde apreciar um belo show de jazz à brasileira, às 12h30, com o grupo InKabula e aprender sobre o universo da música contemporânea, da escuta e da criação, às 14h30, com a professora Valéria Bonafé. Entre os ouvintes, servidores do Tribunal, membros da sociedade civil e alunos da escola EMEF Professor Roberto Mange.

O grupo InKabula, formado por Daniel Grajew (piano), Ricardo Zoyo (contrabaixo), Vinicius Barros (percussão) e Leandro Lui (bateria), utiliza como matéria-prima instrumentos herdados dos povos africanos e europeus para fazer uma bagunça organizada do ritmo intenso do jazz. "O jazz conversa muito com a música brasileira, principalmente da época da Bossa Nova", afirma Grajew. "A gente desenvolve o improviso, muito característico do jazz, e na linguagem o uso principalmente da escala pentatônica", completa o músico.

Considerando que a música instrumental envolve o ouvinte em uma experiência única, o grupo interagiu com o auditório, principalmente com as crianças, contando as histórias por trás de cada arranjo. Isso aconteceu, por exemplo, na apresentação de “Boi d'Água”, música de Zoyo, e Pangea, de Grajew. "A Pangea é uma teoria de que lá atrás, há alguns (talvez) bilhões de anos, o continente que a gente mora, que é o da América do Sul, era junto com o da África. Tanto é que se vocês olharem no mapa-múndi os continentes quase se encaixam.  A música brasileira tem muito disso: trazer música de todos os lugares", explica o integrante do grupo.

Barros explica que o nome InKabula é somente uma alusão ao ritmo do Candomblé, que na verdade é o “Cabula", considerado o precursor do samba. O “In” vem da língua inglesa que significa “dentro". “O grupo tem por objetivo fazer música brasileira. O samba é uma coisa muito forte dentro do grupo, então a gente quis colocar o nome do pai do samba que é Cabula. Esse InKabula quer dizer que estamos tentando colocar para dentro essas coisas afro-religiosas", justifica o percussionista do grupo.

Entre os ídolos da banda, que mescla a música clássica com variados instrumentos, Radamés Gnattali, Ernesto Nazareth, Tom Jobim etc.

Já com uma apresentação intimista, Valéria Bonafé, professora na Escola de Música do Estado de São Paulo, produziu um workshop sobre música contemporânea, escuta e criação. "Quando falamos de música, falamos o tempo todo de escuta. Diferente dos nossos olhos, nossos ouvidos não têm uma membrana. Não piscamos, não fechamos os ouvidos, eles estão abertos o tempo todo. O que acontece é um processo mental, muitas vezes necessário, para que descansemos a escuta. Às vezes a gente não se dá conta de como esse sentido opera, do quanto ele está ativo o tempo todo", explica a professora.

Bonafé trabalha com a invenção de ideias sonoras, que acontece experimentando e pesquisando. "A gente não se toca da capacidade que temos de transferir esse foco de escuta intencionalmente", comenta. A compositora defende a tese de que a escuta precisa ser disponibilizada como uma ação, não como uma situação. "A música está no nosso cotidiano, nos relacionamos com ela com maior ou menor qualidade de acordo com nossas vivências", disse enquanto organizava a primeira experiência da turma com a peça Guero, de Helmut Lachenmann.

Além da interação, as pessoas puderam opinar sobre as atividades. “Tem gente que não sabe o que é melodia, ritmo e isso não te impede de ouvir música e criar relações com ela”, afirmou a professora de música. "Com palavras que não precisam ser técnico-musicais eu consigo fazer com que a minha escuta passe a se qualificar, eu consigo comparar coisas. Quando eu falo o que é, meus ouvidos ficam completamente anulados, o que está ativa é só minha escuta de identificação de um fenômeno", completou.

"Na música contemporânea o silêncio também virou um parâmetro a ser trabalhado, escutado", falou Bonafé. Essa teoria foi constatada pelos participantes a partir de um exercício executado em cima da música 4'33", de John Cage's (fundador da música conceitual). 4’33” é interpretada, por muitos como quatro minutos e meio de silêncio.

A música contemporânea exige uma disposição muito grande para ser entendida, por isso, Bonafé explica que esse estilo “depende de ouvintes curiosos para coisas estranhas”. "A escuta habitual é frouxa, flácida, é uma escuta que não é ação e está em oposição à curiosa, que é uma escuta que para parar, prestar a atenção, que exige abrir os ouvidos, encontrar-se com o estranho". De acordo com a professora, é a partir da escuta criativa que se começa a criar e construir a própria escuta.

A próxima apresentação dos “Concertos Didáticos” será no dia 23 de novembro (sexta-feira), das 12h30 às 13h30, com um encontro entre o erudito e o popular, proporcionado pelo grupo Ôctôctô, no auditório da Escola de Contas do TCM.

Confira a apresentação completa do Grupo InKabula aqui: