A cidade de São Paulo possui aproximadamente 18 mil quilômetros de vias pavimentadas. Um enorme patrimônio estimado em quase R$ 50 bilhões. Para discutir as novas tecnologias e os materiais utilizados na pavimentação, a Escola de Contas, em parceria com o gabinete do conselheiro Domingos Dissei, organizou dois dias de workshop, 26 e 27 de março, sobre “Gestão de pavimento asfáltico”. Estiveram nas aberturas do evento o conselheiro presidente João Antonio, no dia 26, e o vice-presidente Domingos Dissei, no dia 27.
Segundo o presidente do TCM, vivemos por décadas em função da indústria dos buracos na cidade de São Paulo. “Ganham os empresários da indústria dos buracos, perdem os paulistanos com a péssima qualidade dos serviços prestados nessa área”, afirmou João Antonio. Porém, muitas tecnologias surgiram nos últimos anos para mudar o quadro de todo sistema viário. Um exemplo disso são os ensaios tecnológicos.
Um dos convidados para discorrer sobre o assunto, o doutor em Engenharia Civil pela UFRJ Ernesto Preussler, comentou que há dois tipos de avaliações de pavimentos: as funcionais e as estruturais. “As funcionais estão muito mais associadas às questões de conforto e segurança para o usuário. As de natureza estrutural às questões de resistência daquele pavimento (quanta carga ele resiste e qual seria a vida útil desse pavimento ao longo do tempo)”. Para Preussler, existem linhas que defendem conforto e segurança para o usuário. “Não importa o programa de gestão que eu vá executar nessa rodovia, meu controle de gestão tem que estar associado exclusivamente a conforto e segurança”, afirma.
O professor deu ainda exemplos de ensaios. Citou que entre os mais práticos estão aqueles que evitam o transporte de materiais para laboratórios, como o Cone de Penetração Dinâmica. Ele permite uma pré-avaliação de resistência do solo que, quando sujeita a uma determinada carga, deve “distribuí-la nas camadas inferiores de modo que sejam suficientes para resistir todos os esforços que são submetidos ao pavimento”, completa.
Explicando sobre os últimos contratos de recapeamento e conservação da malha viária, o engenheiro e assessor do gabinete do conselheiro Domingos Dissei, Antônio Carlos Dias de Oliveira, informou que o TCM passou a realizar ensaios tecnológicos em suas auditorias. “Foi um divisor de águas", observou. Já a Prefeitura tem realizado muitas manutenções de rotina, como a operação Tapa buraco.
Aos quatro ou cinco anos de pavimentação, o solo começa a dar os primeiros sinais de desgaste. Por isso, o Antônio Carlos ressaltou a importância do PvScan, que, através de um scanner com feixes de laser, observa trincas, emite um relatório das intervenções necessárias e os locais para a execução, o que afasta qualquer especulação e evita a perfuração do solo para extração de amostras. "Tem objetividade", atesta o assessor.
Com os ensaios, evitam-se futuras manutenções que incorrem em mais gastos. ”Se não há uma qualidade inicial adequada, você acaba gastando mais recursos futuramente”, pontua o engenheiro e auditor de controle externo do TCM, Guilherme Tanabe. “Você não consegue saber visualmente se aquele asfalto está atendendo às características técnicas que deveria. São coisas que estão enterradas e a gente não enxerga. O ensaio tecnológico serve para isso: comprovar.”
A exposição sobre o “Novo paradigma para a pavimentação na cidade de São Paulo” ficou a cargo do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Técnicas de Pavimentação da Escola de Contas. O engenheiro José Frederico Meier Neto fez um relato de como surgiu o grupo, seus membros e os trabalhos realizados. Alguns temas tratados foram inovações na pavimentação asfáltica, abertura de valas nas vias públicas, consequências na vida útil do pavimento; melhorias para operação tapa buraco e asfalto morno. Revelou ainda que um trabalho do grupo (Sistema de Gerência de Manutenção de Pavimentos Urbanos e Índices de Serventia do Pavimento) foi premiado pelo Instituto de Engenharia como Melhor Trabalho Técnico no Ano de 2016.
O engenheiro Hélio Proença comentou sobre o novo problema que a durabilidade do pavimento está enfrentando: o aplicativo Waze. “Hoje todo mundo tem fuga para lugares que não estão preparados para receber esse volume de tráfego. Com isso, a vida útil do pavimento está caindo rapidamente”, explicou. De acordo com os estudos do grupo, a evolução da degradação do pavimento começa pelas fissuras, passa para as trincas, infiltrações, excesso de tráfego e carga. Como desafio, está o gerenciamento. “Você precisa ter um índice-base geral para os levantamentos. Usamos os índices de serventia urbana”, observou Proença. Como proposta, o grupo indica que o foco seja a manutenção preventiva. "A operação tapa buraco deve ser a exceção e não a regra”, finalizou.
Concluindo as ideias do Grupo, Janos Bodi, também engenheiro, informou que os pesquisadores foram desafiados pelos conselheiros a achar uma solução para a contratação dos serviços de manutenção da malha viária da cidade em função dos maus resultados verificados nas auditorias de serviços, principalmente de tapa buracos. “Foi verificado que mais de 90% dos buracos tapados na cidade estavam foram das especificações técnicas exigidas no contrato", informou.
O segundo dia contou com a presença do conselheiro Domingos Dissei. O vice-presidente do TCM trouxe informações sobre os prejuízos que a cidade pode ter. “A cada quilômetro temos R$ 100 mil de prejuízo para o município. Se não fizerem os serviços complementares, a nossa fiscalização deve olhar isso de forma rigorosa. Quem presta o é estabelecer um plano estratégico de pavimentação para a cidade. “Não fazer de forma aleatória, mas de forma técnica", ressaltou.
Alguns exemplos dessa técnica podem ser verificados em grandes rodovias hoje sob concessão. Valéria Cristina de Faria, engenheira coordenadora do Centro de Pesquisas Rodoviárias do Grupo CCR, um dos maiores grupos concessionários de rodovias do estado de São Paulo, relatou sua experiência na aplicação de sistemas de gerência ao dirigir a primeira mesa do debate. Um dos focos do CCR é fazer com que as rodovias durem muito tempo, também que sejam seguras, confortáveis e econômicas. “Se você tem uma rodovia confortável e segura, ela trará economia para o usuário porque ele trafegará com segurança, terá menos custos de manutenção”, argumentou.
Nesse sentido, a empresa usa o planejamento para identificar as deficiências da rede. “Só assim é possível priorizar o que é mais importante, para programar e orçar. Você precisa chamar também os seus players. Um representante de cada empresa para que se comprometam com você e para que você saiba o que eles estão planejando", aconselha.
Durante o encontro discutiu-se também a implantação de um modelo de gestão da malha viária pavimentada na cidade de São Paulo. Milton Roberto Persoli, engenheiro e secretário adjunto da Secretaria Municipal das Prefeituras Regionais SMPR, junto com o coordenador do programa “Asfalto Novo”, engenheiro Maurício Martins e com o engenheiro Silvio Roberto de Arruda Leme, gerente de engenharia de sinalização horizontal, vertical, canalização e projetos da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), mencionou que a intenção da Prefeitura é recapear, até 2020, 400 quilômetros de vias. "O que se pretende é a diminuição gradativa da demanda de tapa buraco e a melhoria na condição da malha viária", pontua Maurício Martins, acrescentando que nos últimos sete anos foram gastos mais de R$ 700 milhões com o serviço. “Inicialmente as empresas prestavam serviços recebendo por equipe de tapa buraco, depois isso mudou para tonelada aplicada”, explicou o coordenador do programa “Asfaltou Novo”.
Sobre a sinalização, Silvio comenta que não é feita somente a reposição da sinalização que existia no local. "São feitas também as readequações que atendem algumas demandas da comunidade", comenta.
Antonio Fernando Sampaio, assessor do gabinete do conselheiro Domingos Dissei, informou que toda parte de formalização dos contratos é feita pela Secretaria Municipal das Prefeituras Regionais. Posteriormente, a execução dos contratos é fiscalizada pela Secretaria Municipal de Serviços e Obras. “Após a execução do serviço, a Secretaria Municipal de Serviços e Obras encaminha para a Secretaria Municipal das Prefeituras Regionais os processos para a finalização dos pagamentos", explicou. Ficou em destaque a preocupação em fazer uma cidade com ruas e avenidas com uma pavimentação de melhor qualidade.
Assista aqui a primeira e a segunda parte do evento na íntegra.
Conselheiro presidente do TCM, João Antonio da Silva Filho, fez a abertura do evento no primeiro dia