No sábado, aniversário da cidade de São Paulo (25/01), a exibição do premiado filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, marcou a estreia do Cineclube da Escola de Gestão e Contas do Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCMSP), que passa a fazer parte do Circuito Cineclubista da SPCine, uma rede com outras 20 salas de exibição espalhadas pela cidade de São Paulo, cuja finalidade é democratizar o acesso ao cinema em bairros não atendidos pelas salas comerciais e garantir mais locais de projeção de filmes gratuitos, com prioridade para os títulos nacionais.
Os 125 espectadores, que lotaram o auditório da EGC, transformado na mais nova sala de cinema da cidade, foram recepcionados pelo conselheiro dirigente da Escola, Maurício Faria, pelo diretor-presidente da instituição, Maurício Piragino, e pelo chefe de Gabinete, Marcos Barreto. “Esse nome Escola significa, além de cursos e aulas, também cultura. A ideia de que cultura e a educação devem sempre caminhar juntas. Então, essa frente de atividades que envolve exatamente a cultura está perfeitamente integrada aos objetivos que envolvem a Escola de Gestão e Contas”, afirmou o conselheiro Maurício Faria.
O público ficou envolvido pelo desenrolar da trama, cuja linguagem mistura gêneros diversos, como drama, faroeste e ficção científica, ao contar a história de resistência dos habitantes de um pequeno povoado do Nordeste contra um grupo de turistas estrangeiros que pretende exterminá-los. Bacurau ganhou, entre outros, o Prêmio do Júri do Festival de Cannes, na França, e o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Munique, na Alemanha.
Após a exibição, os presentes puderam participar, com a atriz e diretora de teatro Luaa Gabanini e com o ator Thomas Aquino, que representa o personagem Pacote no filme, de uma reflexão coletiva sobre os vários significados da obra e conhecer algumas curiosidades sobre as filmagens e a reação do público pelos vários países onde o filme foi exibido. A conversa foi mediada pelo jornalista Florestan Fernandes Junior, responsável pela área de Comunicação do TCMSP, e contou com a intensa participação do público, que dentre vários pontos discutiu a atual situação da cultura no país.
Coube ao ator Thomas Aquino interpretar as diversas metáforas contidas no filme, como a da tentativa do prefeito Tony Junior de manter o controle social da população por meio da distribuição gratuita de remédios “inibidores do humor”, “enquanto o personagem Damiano, espécie de curandeiro local, distribuía psicotrópicos naturais que expandiam a mente dos habitantes, facilitando a reação às opressões a que estavam submetidos”, interpretou Aquino. Várias outras questões ainda foram levantadas pelo público e enfrentadas pelos debatedores, envolvendo questões de gênero e o direito de reagir violentamente a uma ameaça iminente à sobrevivência ou resistir a esses ataques por meio de uma cultura pacifista.
Em relação ao cenário atual das expressões artísticas no Brasil, Luaa Gabanini atestou que "a arte vai muito bem, obrigada". "Ela não está com problema. O problema é que existe uma questão administrativa e um pensamento em disputa sobre o que é arte hoje no país", afirmou. De acordo com a atriz e diretora de teatro, o Brasil está sob censura, mas ela acredita que é possível reverter esse processo. E, para os dois debatedores, Bacurau é um exemplo de resistência. Por isso, no encerramento do encontro, Luaa Gabanini fez a leitura de um manifesto contra a censura e em favor da liberdade de expressão na arte e na cultura.
Sob a curadoria de Fernando Ferric, a programação do Cineclube da Escola de Gestão e Contas do TCMSP trará na próxima quinta-feira, 30 de janeiro, às 17 horas, a exibição, com entrada gratuita, do filme Era o Hotel Cambridge, da cineasta brasileira Eliane Caffé. A obra, que acompanha as tensões e dissabores que permeiam o cotidiano de refugiados e trabalhadores sem-teto em um velho edifício abandonado do centro de São Paulo, recebeu quando de seu lançamento, em 2016, o prêmio do público e da crítica no Festival do Rio e é indicada para maiores de 12 anos.
Assista a reflexão coletiva sobre o filme Bacurau: